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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A ilusão da escolha, mais uma reflexão

Este texto veio de uma troca de emails com uma grande amiga, grávida do primeiro filho, e que começa a ter contato com o assunto amamentação. Compartilhando um link de um artigo da Claudia Rodrigues, que também escreve o ótimo blog Buena Leche, acabamos "conversando" sobre o termo que a autora usou: machista, e que foi objeto de um comentário por parte de um homem ("dilmão") logo abaixo do texto. Eu, que adoro bater um papo assim gostoso com alguém, fiz um baita email, na impossbilidade que a distância criou de podermos - eu e ela - conversamos pessoalmente sobre isso.

O texto inspiração é este aqui, sugiro a leitura!

Talvez o erro da autora foi usar a palavra "machista" na argumentação, pois muitos entenderam a palavra, não como influência do mundo masculino sobre nós, mas sim com o significado de preconceito machista, o que de certa forma não deixa de estar certo também.

Quando começamos a ler mais sobre como era a vida antes, quando essa cultura "machista" ainda não havia nos inundado e os eventos de nascimento e lactação eram exclusivamente femininos (os homens nem eram admitidos no quarto onde suas mulheres estavam parindo), tudo era mais simples, mas fácil, menos traumático. Não se ouvia falar de mulheres que não conseguiam amamentar, ou de amamentação até os 6 meses...as crianças mamavam comumente desde que nasciam até 4 ou 5 cinco anos (uns menos, outros mais a depender do amadurecimento de cada criança).

Hoje em dia uma criança ao peito com mais de 2 anos é visto com estranhamento pela maioria de nós, quando na verdade deveria ser algo bem normal, afinal eles ainda estão na fase de serem amamentados, como seres mamíferos que somos. Mas quando vemos uma criança grande mamando, a maioria de nós vê alguém sugando um seio, e não um filho sendo amamentado...se o filho é menino então...já surgem as diversas teorias de dependência que sempre tem conotação sexual...um absurdo só.

Ainda nesta semana, conversando sobre o assunto com colegas de trabalho, todas foram claras em defender o aleitamento materno, porém, diante de um "causo" contado sobre uma mãe que ainda amamentava o filho de 4 anos, todas (menos eu) acharam um absurdo uma criança daquele tamanho ainda ao peito: é estranho, é esquisito, que coisa feia pelamordedeus, a criança já nem precisa mais do LM.

Não precisa? Então por quê damos o leite de vaca para ela? Ela precisa do leite da vaca, mas não do leite de sua própria mãe? Isso não deveria ser o estranho?

O que nos fez achar estranho tal comportamento? Será que realmente são nossas próprias convicções ou será que essa imagem nos é vendida cotidianamente há gerações, até considerarmos o normal estranho e o estranho normal?

Quando os médicos (na maioria homens, pois mulheres nem estudavam) passaram a estudar a obstetrícia, gravidez e nascimento passaram a ser patologias e a serem tratadas como tal pela sociedade, basta observarmos a quantidade de exames que fazemos hoje, quando grávidas, mesmo quando tudo está bem, somos constantemente monitoradas. Quando o bebê nasce é a mesma coisa...levamos mensalmente ao pediatra para "avaliação", mesmo quando nada se apresenta de errado.

Não estou dizendo que sou contra um bom pré natal e acompanhamento profilático no primeiro ano de vida, mas o excesso disso também se mostra prejudicial, principalmente quando nós, pais e mães, deixamos de ter conhecimento e controle sobre nosso próprio corpo, nossa própria fisiologia e temos que nos entregar a informações técnicas de todos os tipos, ao marketing das grandes indústrias e aos conceitos e preconceitos ditados por um mundo masculinizado.

O lado feminino dos eventos tipicamente femininos foram deixados de lado, surgiu o feminismo, a necessidade de ser "igual" ao homem...e lá estava a maternidade a atrapalhar...a amamentação, juntamente com a licença maternidade, é o grande vilão das mulheres no trabalho...então vamos desvincular a amamentação da mulher (diminuindo o tempo necessário aos cuidados do recém nascido), temos leites em lata, qualquer um pode dar.

No início não haviam muitos estudos sobre a composição e função do leite materno, as mulheres se sentiam livres com a mamadeira e passou-se a acreditar que o leite humano (olha que absurdo) não supria as necessidades dos bebês...mas o de vaca sim... Essa cultura não é feminina em essência. E não é lógica.

Claro que existem patologias ligadas ao parto e à amamentação, mas elas são raras e é para tratá-las que deveríamos ter acompanhamento médico. Hoje parece que todas as mulheres perderam a capacidade fisiológica de parir e de amamentar...difícil acreditar nisso, quando qualquer mamífero pari e amamenta suas crias sem problemas.

Atualmente há muitos grupos no mundo todo lutando por retomar as rédeas dessas funções, que são nossas, exclusivamente das mulheres, não podemos fugir disso; mas também há todo um outro grupo que diz que isso é retrógrado, é voltar no tempo e abdicar de conquistas importantes das mulheres no mercado de trabalho (por isso ela usa os termos mercantilismo/capitalismo no texto). O resultado são mulheres divididas, sobrecarregadas e culpadas, pois se anseiam pelo trabalho fora de casa, uma vez que dentro do lar elas são discriminadas, subjugadas e muitas vezes escravizadas, fora do lar elas sentem que não estão onde deveriam estar, outros cuidam dos filhos, os amamentam (na mamadeira) e estão com eles nas 10 horas diárias em que ficam no trabalho.

Complexo isso!

7 comentários:

  1. Muito complexo. Por isso eu optei por trabalhar de casa e ficar com a minha filha. Porém, nem todas as profissões oferecem esta alternativa. Decisão difícil. Obrigada por compartilhar. Há tão pouco cheguei e já aprendo tanto. Beijos!

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  2. nine
    que atenciosa vc com seu recadinho lá no meu post!
    quer dizer que vc comprou "como amar uma criança" pela recomendação no blog! que delicia!!
    um beijão e super super obrigada pelo carinho de sempre!
    e este seu cantinho aqui é sempre um aprendizado!
    Pati

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  3. Acho que estou vivendo nesse mundo no momento.. de escolhas, do que fazer quando tiver o meu baby!

    Beijos ;*

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  4. Oi Renata! Vc tem razão, nem todas as profissões permitem esse arranjo após o nascimento dos filhos, mas seja como for, o importante é tentarmos sempre estarmos presentes! Beijos!

    Obrigada Pati!

    Olá Futura Mamãe! Obrigada pela visita e pelo comentário! Beijos!

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  5. Gostei do su texto, vou compartilhar!
    Amamentei meu primeiro filho 1 ano e 9 meses o segundo 3 anos e pouco...
    Espero conseguir amamentar minha filha livremente!

    Filhos saudáveis, felize = maes saudaveis e felizes!

    Iris

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  6. Oi Iris! Obrigada! Vc tem histórias de sucesso na amamentação, tenho certeza que correrá tudo bem com esta terceira! Beijos!

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  7. Nine, de quantas semanas você está? você está sendo acompanhada por um médico humanizado aí na sua cidade? Olha, não conheço o RS nem as distâncias por aí, mas PoA tem um dos poucos médicos realmente humanizados deste país, o Dr. Ricardo Jones. A esposa dele é EO e atende partos em casa. ele também participa de uma lista de discussão sobre parto, a PartoNosso, não sei se você conhece... Bjos!

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