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terça-feira, 26 de julho de 2011

Por quê? - parte II

Antes de continuar com o assunto escolha pelo parto normal, acho importante salientar que tudo o que eu estou escrevendo é a minha opinião, baseada em experiências e informações adquiridas nesses últimos anos.

De maneira nenhuma eu gostaria que alguém se sentisse ofendido com o que eu escrevo e gostaria de salientar que não critico, não desprezo e não acho menos mãe (para fazer uso de uma expressão comumente usada) aquelas mulheres que optaram pela cesariana, conscientemente ou não.

É importante destacar também que, ao contrário do que acontece na vida virtual, na vida real somos nós, as mulheres que optam por partos vaginais normais/naturais/humanizados, quem sofremos preconceitos de todo tipo e pressão para que mudemos de idéia. E temos toda uma sociedade avalizando a escolha pela cesariana, e todo um corpo de médicos ávidos para que a gente diga que a quer.

Mais do que qualquer outra coisa, eu falo pelo direito de escolha, que hoje não existe para quem deseja um parto vaginal, com menos intervenções. Dizer que a grande maioria das mulheres opta pela cesariana, e que elas estariam então exercendo seu direito de escolha, é tapar o sol com a peneira. Só podemos realmente exercer nosso direito de escolha quando estamos de posse de todas as informações necessárias, o que, infelizmente, não ocorre.

Recentemente, na verdade um mês antes de eu mesma engravidar, uma amiga muito querida me contou a boa nova de que estava esperando seu primeiro filho. Pouco tempo depois ela me disse que estava cogitando uma cesariana eletiva, devido à DPP dela ser na semana entre natal e ano novo - o que a deixou preocupada com o fato da GO escolhida não poder atendê-la no parto.

Como amiga que sou e por ter vivido uma experiência maravilhosa eu gostaria que essa minha amiga tivesse a chance de viver esse momento, assim como eu tive, e assim começamos uma conversa sobre parto, passei uns links, sempre que leio algo interessante mando para ela. Caso ela escolha a cesariana ela não será menos para mim, mas eu lamentarei o fato dela não viver de forma mais plena e bonita esse momento sublime que é o nascimento de um filho. 

É com esse tom, de alguém que deseja aos outros a mesma experiência linda, que eu sigo nesta conversa. Sou esperta o suficiente para saber que nem tudo o que é/foi bom para mim será bom para os outros. Somos seres distintos, temos livre arbítreo. Apesar de no assunto parto ele quase nunca ser respeitado. Mesmo quando inocentemente acreditamos que esteja.

...

Um dia digitando no google parto normal x cesarea eu me deparei com o site Amigas do Parto. Dei uma lida, salvei nos favoritos. Dali passei ao site Parto do Princípio, salvei nos favoritos. Com o passar dos dias fui lendo os depoimentos das mães que fizeram parto normal hospitalar, depois parto domiciliar e li sobre algumas cesarianas. Ali, naqueles depoimentos eu fui conhecendo algumas expressões totalmente estranhas para mim, já com mais de 33 semanas de gestação: enema, tricotomia, episiotomia, analgesia, doula, parto natural, parto natural humanizado, desnecesárea.

Li muito superficialmente as vantagens do parto normal para a mãe e para o bebê, nada muito profundo ou fisiológico, apenas o conhecido: menor risco de morte mãe/bebê, recuperação mais rápida, bebê sabendo que está nascendo, proteção ao sistema respiratório do bebê, menor risco de hemorragia pós parto, facilitação da amamentação, etc.

Soube o que era um plano de parto e resolvi falar com minha GO sobre isso: aceitaria enema, porque tinha muito medo de fazer coco quando estivesse fazendo a tal força, eu me depilaria em casa, não queria episio, pois havia lido que ela não era necessária e que era muito maior do que uma possível laceração, queria analgesia porque ainda morria de medo da dor, queria escolher a posição de nascimento, deambular, queria a presença do meu marido, não queria ocitocina sintética (eu não sabia então que com o uso da analgesia a ocitocina é quase obrigatória).

A resposta dela foi muito evasiva...disse que nós mulheres ocidentais não tínhamos o estilo de vida necessário para parir sem episiotomia e que deitada na mesa eu estaria mais segura e confortável e só me preocuparia em fazer força. Além disso, ela tinha que ajudar o bebê a nascer, e essa posição facilitava as coisas. Em nenhum momento ela me esclareceu que se eu usasse analgesia eu usaria obrigatoriamente ocitocina. Ela esperaria até 40 semanas, depois induziria o parto e se tudo corresse bem e o bebê não entrasse em sofrimento, eu teria o meu parto normal, caso contrário, cesariana.

Tudo correr bem significava um TP de no máximo 12 horas, principalmente se eu estivesse com bolsa rota. Hum...mas eu havia lido que primigestas podem ter um TP ainda mais demorado!

Aí uma luz de alerta acendeu em mim. Eu já havia lido depoimentos de parto suficientes para saber que aquelas respostas indicavam uma médica cesarista. Mas, ela era minha ginecologista há anos! E havia feito os dois partos de uma colega e trabalho (os dois com indução). Fui ficando... Na época eu ainda não conhecia os blogs maternos e não havia ninguém do meu circulo de convívio que pudesse me ajudar naquilo.

Nessa altura eu já queria parto normal, mais porque eu gostaria de facilitar a amamentação e devido à recuperação ser mais rápida. Tinha pavor de ficar de cama, sem poder cuidar da minha filha. Foi muito mais por mim mesma que eu escolhi o parto normal. Pouco me informei sobre os procedimentos com o bebê.

Visitei o hospital da Unimed, conheci a maternidade. A equipe foi apresentada como muito humanizada e a maternidade foi apresentada como amiga do parto normal. Quando perguntei na visita qual a taxa de cesarianas a enfermeira me respondeu que era de 95% a 98%. Eu fiquei mais preocupada. Como assim amiga do parto normal? Estava mais para amig da cesariana... Mas novamente, sem ter com quem torcar idéias sobre o assunto fui me deixando levar...

Cheguei na semana 38 e fui para minha consulta de rotina. Voltei a falar sobre o parto e a GO me disse que a Ísis já estava encaixada e tudo se encaminhava para o parto normal. Fiquei feliz!

Depois de me passar o encaminhamento para analgesia e mais alguns exames ela me diz que não sabe se estará na cidade, pois viajaria para a Europa por 15 dias, coincidindo com minha DPP. Meu chão desmoronou! Como assim viagem para a Europa por 15 dias? Fiquei muito brava! Ela me encaminhou para outro médico e eu saí chorando do consultório. Agora sim minhas chances de parto normal haviam ruído!

Depois de 1 dia me lamentando, chorando, maldizendo a médica, fui atrás do prejuízo e saí em busca de outro médico que pudesse acompanhar meu parto. Com 38 semanas, ninguém queria assumir, todos muito reticentes, me deixaram ainda mais insegura. Cheguei a brigar com um de tão bossal que era!

No final daquela semana consegui o telefone da médica que havia feito o parto normal de uma das minhas amigas, marquei consulta e ela me aceitou. Falamos de cara sobre o parto e ela me disse que não fazia episio de rotina - só quando necessário. Mas não abria mão da posição deitada. Mal sabia eu na época que posição deitada e episio são irmãs siamesas!

Fui para casa um pouco frustrada e depois de uma noite inteira pensando resolvi brigar pelo direito de ter um parto vaginal apenas, aceitaria as intervenções que viessem. Estava cansada daquilo tudo! Recebia pouco apoio, a maioria me dizia para fazer cesariana logo...

Com 39 semanas mais uma consulta. Tudo certo comigo e com a Ísis, que permanecia encaixada e eu estava com 2 cm de dilatação. Fiquei eufórica!

Com quase 40 semanas, mais uma consulta, 3 cm de dilatação, eu sem dores e desconfortos. A GO me disse que faria um toque um pouco mais dolorido para acelerar um pouco o trabalho de parto. Eu disse tudo bem, não sabia nada sobre isso. Senti um pouco de cólica na hora e fiquei um pouco desconfortável depois, mas nada desagradável. A GO me disse que provavelmente nos veríamos antes do final de semana!

Era uma manhã, terça feira ensolarada, dia 28 de abril de 2009.

Fomos para casa, eu e o marido, almoçamos e eu estava com um pouco de dor nas costas, então fui me deitar logo depois. Às 14:30 acordei com um "poc" e senti que a bolsa das águas havia se rompido. Estava começando! 

...

No próximo texto o meu TP e parto nu e cru e as mudanças pelas quais passei após o nacimento da Ísis, que me fazem hoje lutar por um parto natural com profissionais humanizados.

Aqui uma versão mais light daquele dia.



13 comentários:

  1. Me identifiquei muito com sua historia... a diferença é q não pesquisei nem um terço do que vc pesquisou!!! Fui um pouco desencorajada a isso (hoje percebo!)...
    E o final acabou sendo completamente diferente do seu.. e tbm do que eu queria!
    Apesar de estar em trabalho de parto a umas 8 horas o médico só disse que eu não tinha dilatação e me encaminhou para a cesarea, simples assim!
    Informação realmente fa muita diferença! Hoje eu vejo isso!
    Bjnhos em vcs!

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  2. Nine, que importante essa série que você está escrevendo. Sei bem que a ajudará em seu processo de reflexão, porque escrever ajuda a organizar as idéias.
    Mas importante mesmo porque são poucas as mulheres que tem coragem de olhar assim para suas experiências e ainda publicá-las. E como é importante! Tenho certeza que mesmo que você não saiba, seus textos ajudarão muita gente a repensar suas escolhas ou não-escolhas.
    Beijos!

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  3. Nine eu simplesmente AMO falar sobre parto ....fui exatamente como vc, li tudo o que pude avaliei tudo o que me falaram e teve um momento que em uma visita a um determinado hospital a "guia" disse a uma gestante do mesmo grupo "ele é o pai? é pq dependendo do tamanho da cabeça do pai agente nem tenta o parto normal" naquele minuto eu descartei a tal maternidade pois eu ja estava suficientemente instruida para saber que isso não faz a menor diferença .... e eu fui mais alem assisti tudo quanto foi video de parto deja ele o qual fosse, conheci o parto do principio e as amigas do parto e foi nesta época que conheci os bloguinhos maternos .... eu jogava no google "relatos de parto" e me deparava com diversos tipos de mães contando as tuas experiencias e o maridão vivia dizendo "preta vc criar um par contar a nossa história né" e eu sempre repeti que não e olha aqui onde estou, rsrsrsrs feliz da minha vida conhecendo tantas familias e tantas histórias que só me fazem mais e mais feliz a cada dia !!!!!

    eu sou feliz em conhcer vc e a Isis !!!!

    muitos beijos

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  4. Oi Martha! Guria e hoje eu vejo como eu não me aprofundei na pesquisa, hahahaha, na época eu estava muito preocuada com a tal da dor e do sofrimento...tsc...tsc... Essa história de não ter dilatação é velha conhecida...na minha família todas as mulheres "não tiveram dilatação", o que pode ser traduzido como "não vou esperar horas até vc dilatar, tenho mais o que fazer". Beijos!

    Dani, obrigada sempre pelo incentivo. Realmente esses textos tem me ajudado a entender todo o processo e a fotalecer ainda mais as minhas convicções! Beijos!

    Simone! Vc sempre tão carinhosa, obrigada! Na verdade eu pesquisei bem menos que vc, rsrsrs, mas não parei, mesmo depois do nascimento da Ísis e hj me sinto mais informada e preparada! Beijos!

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  5. WOW

    Não sabia anda disto!! Estou adorando o relato, quero ver mais!! Muito bacana mesmo!! Sabe que não penso mais em ter filhos, mas se eu quisesse acho que iria repensar o parto.

    beijos

    Pati

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  6. Conheci seu blog e ADOREI estou encantada, ansiosa para o próximo "episodio"

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  7. Oi minha querida,

    Tô acompanhando sua busca interna e externa pelo parto natural e no fundo sinto um aperto no coração ao constatar que isso seja tão difícil no Brasil. Tem que querer muito pra conseguir aquilo que deveria ser padrão, como é aqui no Canada ou outros países. Aqui não tem nem discussão, é parto normal e pronto. E se vai ser natural ou não, depende da cabeça da mãe, das suas vontades, e tal, mas tudo é discutido abertamente com os médicos, que no final, sempre apoiam o mais natural possivel.

    Bom, no momento eu estou aprendendo a lidar com os medos e traumas que ficaram do meu primeiro parto. Eu tinha total confiança no processo, mas tudo ocorreu de forma bem diferente e complicada. Então estou no processo de cura interna, de resgate da confiança no corpo, na natureza. Ainda bem que tenho alguns meses pela frente.

    No mais, obrigada pelas palavras e um grande beijo pra vc, viu? Tô adorando ter uma parceira de gravidez!!! :)

    Lu

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  8. Oi Juliani! Obrigada e seja muito bem vinda! Beijos!

    Lu, esse processo de busca, para mim foi bem lento e gradual! Espero que vc consiga curar suas feridas e aí no Canadá ter direito ao parto que toda mulher merece! Beijos!

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  9. Nine,
    Conheci seu blog faz pouco tempo. Hoje estou dando uma passadinha para dizer que tem sorteio no meu blog. Se tiver interesse.
    Voltarei mais vezes... Beijos

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  10. Como os médicos cesaristas se escondem por trás das palavras né? Ainda hoje tenho uma pulguinha atrás da orelha e acho que poderia ter tentado o PN, mas, ao mesmo tempo, meu médico fez 2 PNs na minha irmã sem episio, sei que ele não é cesarista nato. E Bento estava transverso, que é o que mais me acalma quando penso no parto e sei que a cesárea é a mais indicada mesmo nesses casos.
    Ufa, vou para a última parte agora, estou ansiosa para ler seu relato!
    bjos
    Sarah
    http://maedobento.blogspot.com/

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  11. Agora que li os comentários e voltei para dizer que adorei o comentário da Dani. É verdade, que coragem de expor o que vc sentiu. Com certeza vai ajudar muita gente em suas escolhas!
    E lembrei de outra coisa (estou verborrágica hoje!!): uma amiga está grávida de poucas semanas e é filha de médico pediatra. Ainda não conversei com ela sobre parto, mas quando a irmã dela engravidou e morava em Londres, eu lembro dela comentar indignada: "lá na Europa é só PN, cesárea só se a mãe/bebê estiverem realmente em risco, acredita??" Ou seja, mesmo filha de médico (ainda por cima pediatra!), sei que ela optará pela cesárea... uma pena.
    bjos!
    Sarah
    http://maedobento.blogspot.com/

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  12. Oi Juliani! Obrigada pela visita e pelo comentário! Beijos!

    Oi Lu! Espero de coração que você consiga resgatar essa confiança no seu corpo e na sua capacidade de parir! Você poderia falar um pouco no seu blog sobre essa diferença entre os partos e atendimento aí no Canadá, o que achas? Beijos!

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